domingo, 20 de novembro de 2011

5º dia – San Antonio de Los Cobres – San Pedro de Atacama (18/11/2011)

 Distância: 345 km


No geral o grupo acordou bem, sem nenhum sintoma mais extremo do mal da altitude. Uma dorzinha de cabeça ali, uma tontura ali, uma pequena moleza, mas nada que nos impedisse de prosseguir com a viagem. Pelos menos metade da viagem é feita acima dos 4.000 m, chegando a 4.560 m perto de Los Cobres. Interessante foi a lata de batatas que tínhamos que estava quase estourando devido a baixa pressão.

Saímos de Los Cobres em torno das 10:15h e fizemos um pequeno desvio para conhecer o Viaduto La Polvorilla, uma ponte de ferro em curva de 200 m de extensão e 65 m de altura, a uma altitude de 4.200 m, que pertence ao chamado Trem de Las Nubes, provavelmente a mais alta ligação férrea do mundo. Atualmente é apenas uma linha turística que parte aos sábados de Salta em um passeio de 15 h, contando o retorno.

Ali no viaduto há uma pequena venda de artesanatos locais feitos com lã de lhama e alpaca. Também há algumas espécies de aves no local e nas corridas para fotografá-las senti um pouco de falta de ar. J

Voltamos para a estrada rumo ao Paso Sico, fronteira da Argentina com o Chile. A estrada subiu muito e a paisagem foi ficando cada vez mais espetacular. Alguns pequenos salares e rios e outros trechos totalmente desolados. A estrada em certos pontos nos permitia velocidades de até 80 km/h e em outros caía para 30 km/h devido a buracos e costelas de vaca. As vezes achava melhor passar pelas costelas a mais de 70 km/h mesmo, pois parecia que a vibração do carro era menor.

Em torno das 13:30h chegamos ao controle de saída argentino do Paso Sico. Documentos de todos, dos carros, habilitação e papelzinho de entrada que pegamos em Puerto Iguazú. O pessoal da fronteira foi sempre muito educado, solícito e simpático, tanto que em 20 minutos já estávamos liberados. Depois de mais 10 km atingimos o Paso e tiramos as tradicionais fotos para entrada no Chile. A altitude era de 4.080 m.

Eu e a Mônica não estávamos sentindo quase nada, provavelmente devido ao chá de folhas de coca que preparamos em Los Cobres e tomávamos de vez em quando. Eu tinha apenas uma leve dor na região lombar mas tomei um dorflex e resolveu.

Após transpormos o Paso a paisagem mudou completamente. As montanhas arredondadas e de cores variadas do lado argentino deram lugar as montanhas pontiagudas, escuras e nevadas do lado chileno. Várias lagunas e salares, um mais belo que o outro também começam a aparecer a cada nova curva.

No meio do nada, em um vale espetacular, há o controle fitosanitário e um posto policial chileno. Ali apresentamos novamente vários documentos nossos e dos carros, preenchemos declarações que não levávamos mais do que 10.000 dólares, que não tínhamos equipamentos eletrônicos especiais, que não levávamos frutas, sementes, hortaliças, carnes, coca, etc. Todos os carros foram revistados e o César e a Rosângela perderam vários pacotes de castanhas que traziam junto. Também os saquinhos de folha de coca foram recolhidos. Mas o oficial chileno era muito gente boa e ganhou de nós uma latinha de gaseosa de guaraná brasileño.

Como nesse inverno de 2011 nevou bastante nos altiplanos, várias montanhas tinham blocos imensos de gelo que olhando com zoom pareciam recortados e cheios de pontas. Alguns quilômetros à frente uma grande surpresa. Bem próximo à estrada, estávamos a 4.200 m, um extenso bloco de gelo nos convidava a uma parada. Com o derretimento formavam-se verdadeiras estalactites de gelo, com mais de dois metros de altura, que se esfarelavam ao toque. Tudo muito branco com um céu azul puro de fundo. Aproveitei e comi um gelinho básico!

Depois paramos em uma salar cuja laguna estava ponteada de pontos rosados. Havia centenas de flamingos alimentando-se calmamente nas águas salgadas. Consegui me aproximar razoavelmente das aves e distinguir duas das três espécies que habitam a região. Só não cheguei mais perto por causa do tempo que corria... ainda faltavam uns 150 km para chegarmos em San Pedro.

No Chile o rípio está muito bom e na maior parte do tempo conseguimos manter velocidades acima dos 80 km/h.

Mais uma parada, agora na Laguna Miscanti e na Laguna Miñiques. A beleza dessa reserva é difícil de descrever em palavras. Ficamos um bom tempo apreciando e passeando no local que está em torno de 4.200 m de altitude. Fazia um pouco de frio com o forte vento que soprava.

Ainda faltavam 100 km para San Pedro... com tantas paradas não tem como a viagem ser rápida. Chegamos em San Pedro no início da noite e paramos na aduana que fica bem na entrada da cidade. Tudo de novo... e mais meia hora de espera, mas tudo certo. Estranharam a marca do carro, Troller e a maneira que é nossa placa. Teoricamente estaríamos dispensados da revista, mas o Cesar e o Emílio tiveram novamente os carros revistados.

Chegamos no Hotel Don Raul mortos de fome e super-cansados. Fomos direto procurar um restaurante. Opções há de sobra na cidade, mas isso fica pra outro dia.


IMPORTANTE: de Cafayate até Los Cobres e depois até Sn. Pedro de Atacama não há recurso algum na estrada. Eu a Mônica consumimos durante esses dois dias na estrada mais de 10 litros de água/refrigerantes. A hidratação é importantíssima para amenizar os efeitos da altitude, ainda mais com o clima extremamente seco e o forte calor durante o dia. 

De Los Cobres até a Laguna Miscanti cruzamos com apenas dois caminhões e dois carros e ultrapassamos um caminhão, para que vocês tenham uma idéia de como o lugar é deserto e sem recursos mesmo.

 



cometocino

cometocino









Aduana argentina









Aduana fitosanitária chilena






flamingo-andino





Laguna Miñiques

gaviota-andina


Laguna Miscanti


vicunha



sábado, 19 de novembro de 2011

4º dia – Cafayate – San Antonio de Los Cobres (17/11/2011)

Distância: 320 km

Esse seria o dia mais desafiador de nossa viagem pois passaríamos pelo local conhecido como Abra El Acay, a 4.950 m, uma das rotas regulares de veículos mais altas do mundo. Estávamos todos apreensivos porque não sabíamos como seria a nossa reação a uma altitude tão elevada, ainda mais numa subida tão rápida como desse dia, partindo dos 1.200 m de Cafayate.

Iniciamos nossa viagem pela lendária Ruta 40, maior estrada da Argentina, com mais de 6.000 km de extensão e quase toda em rípio. No nosso roteiro teremos aproximadamente 50 km de asfalto, sendo uns 40 km em Cafayate e outro tanto em Cachi, nossa primeira parada a 160 km de distância.

Logo após a saída de Cafayate já começamos a avistar as primeiras montanhas nevadas. A primeira grande atração do dia foi a Quebrada de Las Flechas, com suas formações rochosas espetaculares e únicas. O arenito das rochas é tão frágil que se esfarela ao passar a mão sobre elas.

Até esse ponto conseguimos manter uma média de 70 km/h na maior parte do tempo, pois a estrada era larga e muito bem conservada. Depois da Quebrada a estrada ficou bastante ruim e com muitas passagens estreitas e sem visibilidade na beira de alguns barrancos muito altos. Por outro lado a paisagem do rio Calchaqui com seus inúmeros vales totalmente verdes era de encher os olhos. Chegamos em Cachi depois de 4,5 horas de viagem. Abastecemos os carros e os estômagos e iniciamos a segunda parte da viagem.

Logo após Cachi, 2.400 m, uma reta em rípio enorme e muito larga, com piso excelente, onde chegamos a 90 km/h levantando muita poeira. A subida começou lenta e vagarosamente chegamos ao 3.000 m. Muitas montanhas altíssimas de cores variadas e vales muito verdes nesse trecho também. Depois de umas duas horas de viagem iniciamos a grande subida do Abra El Acay. Um rio lindíssimo acompanha a estrada e por várias vezes foi preciso atravessá-lo.

A medida que subíamos os carros começaram a perder força. Para arrancar era necessário pisar fundo e subir bem o giro do motor. O Emílio sofreu bastante já que seu carro não possui motor turbinado como os Trollers. A pressão máxima que a turbina do meu carro atingia não passava de 0,9 bar, quando o comum no meu carro é de 1,2 bar. Curvas extremamente acentuadas e inclinadas – tipo Serra de Ubatuba – subiam serpenteando a cordilheira. Em outros pontos curvas estreitas e sem visibilidade ao lado de precipícios enormes. Emoção pura o tempo todo.

Eu e a Mônica praticamente não sentimos nenhum dos efeitos da altitude. Sem dor de cabeça, náuseas, tonturas e outros. Apenas uma leve fraqueza nas pernas e uma pequena falta de ar quando fazíamos algum esforço maior, tipo correr atrás de lhamas para fotografá-las.

Chegamos ao alto do Abra El Acay, 4.950 m, em torno das 17h. O visual era magnífico, sem nuvens e com muito vento. A temperatura externa era de 8 ºC, mas a sensação térmica causada pelo vento deixava tudo muito gelado. Eu calculo que estava em torno de -10 ºC. As mãos e o rosto congelavam em pouquíssimo tempo. Tiramos algumas fotos e iniciamos a longa descida até Los Cobres.

A descida também é espetacular. Vimos muitas vicunhas e até mesmo uma viscatcha (lebre andina) que parou em uma pedra ao lado do carro e permitiu várias fotografias. Depois de muitas curvas, uma reta espetacular de mais de 10 km que desceu dos 4.600 m até os 4.000 m onde mantivemos uma média de 90 km/h no rípio, em excelente estado.

Chegamos em Los Cobres, 3.770 m, já no escuro, procurando por uma hospedaria que eu tinha achado na internet. Los Cobres é uma cidade sinistra e feia, com um povo bastante arredio. Parecia que éramos de outro planeta de tanto que nos encaravam. Depois que encontramos uma pessoa que entendeu o que falávamos e com boa vontade para nos informar, encontramos a hospedaria. Sinistra também e resolvemos nem parar. Nisso uma picape que estava nos seguindo desde um trecho da cidade parou e um homem abordou o Cesar e nos ofereceu um lugar para que nós nos hospedássemos.

Meio desconfiados seguimos o carro e chegamos a uma hospedaria excelente, nova, barata e com restaurante ainda por cima. O homem do carro era policial e médico, proprietário do local e médico do hospital da cidade e do posto de fronteira com o Chile. Em Los Cobres nossos amigos estavam bem ruins por causa dos efeitos da altitude e precisaram ir ao hospital para receber um pouco de oxigênio.

Devido ao excesso de poeira meu carro ficou com as travas e fechaduras meio emperradas e a mola a gás do vidro traseiro (basculante) perdeu a ação. Nos carros do César e do Emílio também entrou muito pó.

Foi um dia muito puxado e emocionante. Jantamos algumas empanadas de carne de lhama, um cozido de legumes com carne de lhama e um macarrão caseiro, todos muito bons. Os valores do restaurante achamos um pouco caros, mas naquela cidade quase isolada no mundo, tudo é muito difícil de chegar. Até mesmo o combustível era 30% mais caro do que estávamos pagando. 

O nome da hosteria em Los Cobres é El Aujero - http://www.elaujero.com.ar/IndexI.html -  e-mail: jorgeafpark@hotmail.com

Cafayate





Quebrada de Las Flechas















Cultivo a quase 4.000 m










Pirambeira a 4.900 m...






Longa descida até Los Cobres


Viscatcha


San Antonio de Los Cobres