sábado, 19 de novembro de 2011

4º dia – Cafayate – San Antonio de Los Cobres (17/11/2011)

Distância: 320 km

Esse seria o dia mais desafiador de nossa viagem pois passaríamos pelo local conhecido como Abra El Acay, a 4.950 m, uma das rotas regulares de veículos mais altas do mundo. Estávamos todos apreensivos porque não sabíamos como seria a nossa reação a uma altitude tão elevada, ainda mais numa subida tão rápida como desse dia, partindo dos 1.200 m de Cafayate.

Iniciamos nossa viagem pela lendária Ruta 40, maior estrada da Argentina, com mais de 6.000 km de extensão e quase toda em rípio. No nosso roteiro teremos aproximadamente 50 km de asfalto, sendo uns 40 km em Cafayate e outro tanto em Cachi, nossa primeira parada a 160 km de distância.

Logo após a saída de Cafayate já começamos a avistar as primeiras montanhas nevadas. A primeira grande atração do dia foi a Quebrada de Las Flechas, com suas formações rochosas espetaculares e únicas. O arenito das rochas é tão frágil que se esfarela ao passar a mão sobre elas.

Até esse ponto conseguimos manter uma média de 70 km/h na maior parte do tempo, pois a estrada era larga e muito bem conservada. Depois da Quebrada a estrada ficou bastante ruim e com muitas passagens estreitas e sem visibilidade na beira de alguns barrancos muito altos. Por outro lado a paisagem do rio Calchaqui com seus inúmeros vales totalmente verdes era de encher os olhos. Chegamos em Cachi depois de 4,5 horas de viagem. Abastecemos os carros e os estômagos e iniciamos a segunda parte da viagem.

Logo após Cachi, 2.400 m, uma reta em rípio enorme e muito larga, com piso excelente, onde chegamos a 90 km/h levantando muita poeira. A subida começou lenta e vagarosamente chegamos ao 3.000 m. Muitas montanhas altíssimas de cores variadas e vales muito verdes nesse trecho também. Depois de umas duas horas de viagem iniciamos a grande subida do Abra El Acay. Um rio lindíssimo acompanha a estrada e por várias vezes foi preciso atravessá-lo.

A medida que subíamos os carros começaram a perder força. Para arrancar era necessário pisar fundo e subir bem o giro do motor. O Emílio sofreu bastante já que seu carro não possui motor turbinado como os Trollers. A pressão máxima que a turbina do meu carro atingia não passava de 0,9 bar, quando o comum no meu carro é de 1,2 bar. Curvas extremamente acentuadas e inclinadas – tipo Serra de Ubatuba – subiam serpenteando a cordilheira. Em outros pontos curvas estreitas e sem visibilidade ao lado de precipícios enormes. Emoção pura o tempo todo.

Eu e a Mônica praticamente não sentimos nenhum dos efeitos da altitude. Sem dor de cabeça, náuseas, tonturas e outros. Apenas uma leve fraqueza nas pernas e uma pequena falta de ar quando fazíamos algum esforço maior, tipo correr atrás de lhamas para fotografá-las.

Chegamos ao alto do Abra El Acay, 4.950 m, em torno das 17h. O visual era magnífico, sem nuvens e com muito vento. A temperatura externa era de 8 ºC, mas a sensação térmica causada pelo vento deixava tudo muito gelado. Eu calculo que estava em torno de -10 ºC. As mãos e o rosto congelavam em pouquíssimo tempo. Tiramos algumas fotos e iniciamos a longa descida até Los Cobres.

A descida também é espetacular. Vimos muitas vicunhas e até mesmo uma viscatcha (lebre andina) que parou em uma pedra ao lado do carro e permitiu várias fotografias. Depois de muitas curvas, uma reta espetacular de mais de 10 km que desceu dos 4.600 m até os 4.000 m onde mantivemos uma média de 90 km/h no rípio, em excelente estado.

Chegamos em Los Cobres, 3.770 m, já no escuro, procurando por uma hospedaria que eu tinha achado na internet. Los Cobres é uma cidade sinistra e feia, com um povo bastante arredio. Parecia que éramos de outro planeta de tanto que nos encaravam. Depois que encontramos uma pessoa que entendeu o que falávamos e com boa vontade para nos informar, encontramos a hospedaria. Sinistra também e resolvemos nem parar. Nisso uma picape que estava nos seguindo desde um trecho da cidade parou e um homem abordou o Cesar e nos ofereceu um lugar para que nós nos hospedássemos.

Meio desconfiados seguimos o carro e chegamos a uma hospedaria excelente, nova, barata e com restaurante ainda por cima. O homem do carro era policial e médico, proprietário do local e médico do hospital da cidade e do posto de fronteira com o Chile. Em Los Cobres nossos amigos estavam bem ruins por causa dos efeitos da altitude e precisaram ir ao hospital para receber um pouco de oxigênio.

Devido ao excesso de poeira meu carro ficou com as travas e fechaduras meio emperradas e a mola a gás do vidro traseiro (basculante) perdeu a ação. Nos carros do César e do Emílio também entrou muito pó.

Foi um dia muito puxado e emocionante. Jantamos algumas empanadas de carne de lhama, um cozido de legumes com carne de lhama e um macarrão caseiro, todos muito bons. Os valores do restaurante achamos um pouco caros, mas naquela cidade quase isolada no mundo, tudo é muito difícil de chegar. Até mesmo o combustível era 30% mais caro do que estávamos pagando. 

O nome da hosteria em Los Cobres é El Aujero - http://www.elaujero.com.ar/IndexI.html -  e-mail: jorgeafpark@hotmail.com

Cafayate





Quebrada de Las Flechas















Cultivo a quase 4.000 m










Pirambeira a 4.900 m...






Longa descida até Los Cobres


Viscatcha


San Antonio de Los Cobres


2 comentários:

  1. Prezados Viajantes

    Parabéns pelo site e pelas fotos. Muito informativo.

    Em Agosto deste ano estarei em Salta e pretendo fazer o circuito Salta-Cachi-Cafayate.
    Minha idea é fazer o circuito em carro alugado em dois dias. No primeiro, de Salta a Cafayate e no segundo de Cafayate a Salta (ver Quilmes, etc). Inclusive já reservei hotel em Cafayate, etc.

    Estou preocupado com as condições das estradas, principalmente a ROTA 40 entre Cachy e Cafayate e então gostaria de saber se vocês podem me ajudar com as seguintes dúvidas:

    1) É possível fazer os circuitos em carro simples, econômico,tipo Corsa,Clio,Gol 1.0? Pergunto isto porque o preço do aluguel de um 4X4 é altíssimo.
    2) Existe risco do carro atolar em algum lugar?
    3) Existe perigo de assalto na estrada?
    4) Em suma, quais são os riscos? Que conselhos me dariam?

    A minha impressão é que dirigindo devagar é possível fazer o circuito sem susto, inclusive o de Cachy-Cafayate pela Ruta 40, mas como nunca estive lá, acho melhor me precaver.

    Agradeceria muito qualquer ajuda.

    Marcos Silveira

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    1. Olá Marcos. Obrigado pela visita!
      Dá pra fazer sim. Há vários carros de passeio fazendo esse trajeto de Cafayate a Cachi. É rípio, algumas horas super bom, outras horas muitas pedras ou buracos. De carro de passeio só vai ter que andar mais devagar pra não cortar um pneu nesses trechos piorzinhos. Atolar? Não. Super tranquilo. Só não querer inventar e andar fora da estrada. E é muito tranquilo por lá, pode ir ser medo. E de Salta a Cafayate não deixe de conhecer a Quebrada de Las Conchas. É incrível também. Só não conheci o trecho de Cachi à Salta, mas um amigo fez e a estradinha é alucinante.
      Abcs
      Marco

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